quinta-feira, 10 de novembro de 2016

As moradias para os imigrantes

A necessidade


Estava se aproximando o fim do ano e também a chegada das chuvas na região. O Engenheiro Chefe, prudente e precavido, temendo uma redução ou mesmo impedimento no andamento dos serviços, oficializou a necessidade urgente de se construir as casas para moradias dos imigrantes, isto aos 10 de setembro.

Junto ao ofício encaminhou dois projetos de casas, que segundo ele, poderiam ser construídas com rapidez e economia. E chama a atenção para um detalhe construtivo interessante:

(...) Em ambos, a cobertura é de papelão e as paredes de adobe, com fundações de pedra seca, afim de proteger da umidade a parte inferior da 1ª fiada de adobes (...)


E mais adiante:

(...) O adobe é uma espécie de tijolo, com dimensões arbitrárias, feito de barro amassado com água, seco ao sol, de fácil mão-de-obra, em geral empregado nas construções aqui e de duração relativamente extraordinária (...)”.

Não encontramos as plantas das casas, mas inferimos, pela lista de materiais, que no projeto indicado pelo Engenheiro Chefe, a área de construção ficaria no entorno de 40 metros quadrados. Aqui já nos deparamos com o primeiro entrave, muito comum nos empreendimentos que vinculam sua realização à promessas sem garantias.

A morosidade das decisões, os entraves burocráticos e o desinteresse do Governo, associados a uma reduzida dotação de recursos forçaram a adoção de soluções improvisadas e na maioria das vezes inadequadas. Assim, ao invés das casas, o Ministério da Agricultura, por um ofício enviado ao Dr. Armênio em 5 de novembro (portanto 56 dias após o envio dos projetos das casas!) decide pela construção de: 

(...) um galpão para agasalho de imigrantes recém-chegados (...)”.

O prazo, portanto, para a construção do galpão seria de apenas 30 dias.

Mesmo assim, imediatamente, três projetos de um galpão suficiente para abrigar 250 pessoas, com os respectivos orçamentos, foram enviados pelo Engenheiro Chefe à Inspetoria Geral em 17 de novembro. Mas as chuvas já estavam próximas e os primeiros imigrantes estavam chegando...

Apesar de não terem sido encaminhados ao núcleo colonial, como veremos adiante, deram início ao movimento imigratório para a região, à partir de fins de outubro de 1888.

Sabendo que o prazo estava se esgotando e que a construção de um galpão naquelas circunstâncias era totalmente inviável, o Engenheiro Chefe, aos 26 de novembro, relata que tendo em vista a urgência de se instalar imigrantes no núcleo, enviava ao Inspetor Geral as plantas de duas já construídas. Salientou que haveria a possibilidade de alojá-los convenientemente desde que fossem feitos alguns reparos. E fornece detalhes quanto à localização das mesmas:

A primeira localizava-se na Várzea do Marçal, cerca de 5,5 quilômetros da Estação de Ferro Oeste de Minas, devendo acomodar 60 a 70 pessoas. O barracão vizinho à casa poderia abrigar 40 pessoas;

A segunda situava-se em terras que foram de José Theodoro, na margem esquerda do rio das Mortes, próxima à linha férrea e podendo acomodar 150 a 160 pessoas.

Ressalta ainda que se a autorização para a execução dos reparos fosse dada, por telegrama, teria condições de prepará-las até o dia 10 de dezembro. Ali os imigrantes deveriam ficar, aguardando os recursos prometidos pelo Governo, não só para a construção de suas casas mas também para o início dos trabalhos de lavoura.

Com habilidade e parcimônia o Dr. Armênio foi suprindo as necessidades básicas de instalação do núcleo, uma vez que o Ministério de Agricultura somente havia aprovado, para o período de março a dezembro, a mirrada verba de 40.000$000 (quarenta mil contos de réis) para as despesas totais da Comissão. E até 30 de setembro, sem ter sido aprovada a construção das casas, constata-se, pelos minuciosos relatórios do Dr. Armênio, que as despesas já atingiam o valor de 23.498$786. Se excluíssemos as despesas da própria Comissão, o restante da verba aprovada daria, aos preços vigentes na época, para a construção de apenas 55 casas!

No período de 1º de outubro a 9 de novembro ficou afastado do serviço, por motivo de doença, o Agrimensor Pedro Zanith.

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