sábado, 12 de novembro de 2016

O Brasil do Século XIX

Reflexos da extinção da escravatura em Minas Gerais.


No Brasil, o problema da mão-de-obra tornara-se agudo, principalmente depois da abolição do tráfego de escravos, em 1850. A necessidade de mão-de-obra agravava-se mais ainda devido a uma cultura relativamente nova, o café, que rapidamente se desenvolvia, ocupando áreas cada vez maiores.



Ao contrário do que ocorria em outras províncias, em Minas Gerais o problema já não foi tão grave, uma vez que possuía a maior população escrava do país (cerca de 170 mil escravos, pelo censo de 1872) e foi fácil o seu desvio da mineração, então decadente, para a agricultura, principalmente para a lavoura cafeeira da Mata e do Sul. Já em São Paulo o café, penetrando para o oeste da província, demandava mão-de-obra abundante, tanto para formar novos cafezais como para manter os já existente e, para isto, os escravos já rareavam.

Nasceram então duas correntes de opinião relativas à imigração: uma defendendo a necessidade de atrair o imigrante, sem o objetivo de substituir o escravo e favorável à sua fixação em núcleos coloniais; a outra desejando, de imediato, através da imigração em massa, trazer mão-de-obra para o trabalho nas fazendas.

Minas Gerais estava em perfeita concordância com a política do Império, favorecendo o povoamento de seu solo através da criação de núcleos coloniais. Os imigrantes, principalmente de origem alemã, que chegaram em Minas a partir de 1856 formaram então as colônias do Mucurí, D. Pedro II e Urucu. Mas a falta de recursos financeiros, o desinteresse por parte do Governo e do particular, inibiu a continuação da política de povoamento, reduzindo-se a esses três núcleos, que apesar das dificuldades, conseguiram progredir. Sendo enviado inicialmente para as regiões onde haviam as grandes fazendas de café, como Ribeirão Preto, o italiano foi substituindo o escravo às vésperas da abolição.

Os procedimentos relativos à imigração variavam assim, de província para província e o Governo Imperial, desejando discipliná-los, criou a Inspetoria Geral de Terras e Colonização, em 23 de fevereiro de 1886, pelo Decreto nº 6.129. Nele todas as atividades ligadas à fiscalização do bem estar do imigrante foram previstas, desde a inspeção das condições dos navios até a sua instalação em núcleos coloniais. De especial importância como infraestrutura de suporte do sistema imigratório criou-se a Hospedaria, cujo Diretor, diretamente subordinado ao Inspetor, deveria propiciar ao imigrante condição adequada de alimentação e hospedagem.

Também as Minas Gerais, temendo os reflexos da extinção da escravatura, fazendeiros de café e industriais que se encontravam em fase de expansão começaram a se articular para trazer o imigrante. Às vésperas da abolição, ou seja, a 20 de janeiro de 1888, o Governo Provincial baixou o Regulamento nº 108 onde, além de outras determinações, estabelecia-se as normas para o funcionamento da Hospedaria dos Imigrantes e para a criação de Núcleos Coloniais oficiais e particulares.

Entre os núcleos coloniais criados pelo Governo encontra-se o de São João Del Rei, instalado na Várzea do Marçal e na ex-fazenda de José Theodoro, que foram, como veremos adiante, também denominados por Bolonha e Ferrara, respectivamente, devido à origem dos italianos que os formaram. A grande verdade, no entanto, é que o Brasil não estava preparado para um empreendimento de tal envergadura. Além disso, a eminente transformação do Império em República, alterava os compromissos assumidos, e em 10 de janeiro de 1889 lê-se no “A Província de Minas – nº 565 – Ouro Preto”:

“Esses fatos mais recentes, combinados com outros mais tristes e deploráveis, mostram bem o que é e o que tem sido o malfadado serviço de imigração para esta província”.

Pessoas bem intencionadas, como o Dr. Armênio de Figueiredo e o Cel. Severiano Nunes Cardoso de Rezende, conseguiam modificar este estado de coisas. O seu trabalho dedicado, honesto e a sua firmeza de propósitos, foram realmente os pilares sobre os quais construiu-se o Núcleo Colonial de São João del Rei. Não obstante as inúmeras dificuldades encontradas, procuraram instalar condignamente os imigrantes, o que pode ser comprovado pelos relatos minuciosos e precisos do Engenheiro Chefe. Após 107 anos que os fatos aqui narrados aconteceram, não podemos esquecer que os nomes e as personalidades marcantes desses homens, indelevelmente se liga a todos eles.

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