segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Chegam os primeiros colonos

Festa da Chegada


Ainda no mesmo dia 3 de dezembro chegam os primeiros 102 colonos, constituindo 22 famílias destinadas ao núcleo. A cidade se alegra e se entusiasma. Apesar de terem passado pela Hospedaria outros imigrantes, como vimos anteriormente, para os são-joanenses entretanto, aqueles eram diferentes. Afinal vieram para permanecer. E a curiosidade e o júbilo do povo se misturam, acolhendo os primeiros colonos com alegria e acompanhando-os até a Hospedaria.

Era um bloco de homens robustos e de mulheres de faces coradas, de mãos dadas com suas crianças e acompanhados pelos mais velhos, que ante a admiração geral andavam lentamente, suspirando extasiados os ares de uma nova vida Nos rostos alegres retratavam a esperança que lhes aquecia a alma, envolvidos por uma natureza exuberante e pelo clima contagiante do entusiasmo sãojoanense.

Naqueles instantes o cenário bucólico e esmaecido da florescente São João Del Rei se transformava. Os novos personagens que chegavam traziam cores mais vivas e duradouras, pela força do trabalho e pelo desejo inquebrantável de vencer.

Nos seus pensamentos ainda confusos se mesclavam os sonhos de ventura, afugentando de corpos extenuados os vestígios de uma longa e penosa viagem nos porões do navio que os expatriava. E sufocados por aquele torvelinho de emoções, deixavam que dos olhos cansados, diante da jovialidade e estupefação de quase todos, brotassem algumas furtivas lágrimas.

À noite, após a esfuziante receptividade dos são-joanenses, é possível que os imigrantes tenham se entregado a mil devaneios, deixando que a imaginação os levasse a campos floridos e fecundos, onde não mais existisse a miséria e sim, a almejada esperança de dias melhores.

No dia seguinte, ainda cansados e entorpecidos, foram levados para a Várzea do Marçal, sendo instalados na casa provisória, até que construíssem as suas. As crianças pequenas e doentes foram transportadas por lentos carros de bois, com o seu chiar lânguido e bucólico.

Pressentindo a necessidade de agilizar a assistência médica, o Engenheiro Chefe, no dia 5 de dezembro, solicita ao Inspetor Geral autorização para fornecer medicamentos e atendimento médico aos que adoecessem, no que parece ter sido atendido. Mesmo assim, apesar da presteza da assistência médica, três crianças que já se encontravam enfermas faleceram e novamente as lágrimas molharam os rostos daqueles que, há poucas horas antes, choravam de felicidade...

Para o Dr. Francisco de Paula Moreira Mourão, médico do núcleo colonial, foram dadas instruções para a instalação de uma enfermaria, possibilitando assim, um melhor atendimento aos doentes. Outras levas de colonos foram chegando sucessivamente e o Engenheiro Chefe, aos 18 de dezembro, ou seja, uma quinzena após a chegada dos primeiros colonos, informa que já se achavam instalados, em 6 casas provisórias na Várzea do Marçal 371 colonos e na ex-fazenda de José Theodoro, mais 186 colonos. Neste mesmo relato designa o Engenheiro Auxiliar, Dr. Coelho, para fazer a “instalação, estabelecimento e distribuição dos lotes aos imigrantes” recomendando que eles, desde já, iniciassem a construção de suas casas.

Entretanto, para que as casas pudessem ser construídas, o Dr. Armênio teve que providenciar o fornecimento não só de ferramentas, sementes e mudas (milho, batata, arroz, feijão e uva) mas também dos utensílios de cozinha indispensáveis.

Argumentavam os colonos da Várzea do Marçal que se o Governo não fizesse certas concessões estariam no firme propósito de voltar à Itália. Fundamentavam suas reivindicações no fato de que, iludidos pelos agentes de imigração, lhes foram feitas inúmeras promessas que não estavam sendo cumpridas. E, certamente, se julgavam no direito de recebê-las.

Diziam ainda que, sendo provenientes de duas aldeias vizinhas, Bolonha e Ferrara, acreditaram nas promessas feitas e vieram em massa se estabelecer no Brasil. Por esse motivo, o Núcleo Colonial de São João del Rei, em alguns documentos, é citado como Núcleo Bolonha-Ferrara. Um desses documentos é o ofício do Comendador José Carlos de Carvalho ao Dr. Armênio, comunicando-lhe que assumira o cargo de Inspetor Geral de Imigração da Província.

Tanto a denominação de Núcleo “Bolonha-Ferrara”, como a oficial (Núcleo Colonial de São João del Rei), não ganharam popularidade e sim os nomes regionais tais como “José Theodoro“, “Giarola”, “Bengo” , “Felizardo” ou mesmo o uso corrente da denominação “Colônia”.

Não sabemos ao certo o número de lotes que foram distribuídos na Colônia mas, pelo relato do Dr. Armênio, presumimos que tenham sido no entorno de 180.

Também em outro documento importante, o Livro Auxiliar da Colônia, são relacionados 135 lotes na Várzea do Marçal e 39 lotes na ex-fazenda de José Theodoro.

À primeira vista pode parecer um número pequeno, mas é bom lembrar que, naquela época, implicou no aumento de 10% da população da cidade, em menos de um mês!


E já no dia 20 de dezembro o Dr. Armênio informa que somente poderia acomodar mais 6 famílias, “(...) porquanto neste núcleo não posso estabelecer mais imigrantes (...)”.

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