sábado, 5 de novembro de 2016

Vida na colônia

Trabalho na lavoura


Apesar do esforço e dedicação do Dr. Armênio conclui-se, pelos seus relatos, que o colono teve que resignar-se em ver os seus primeiros sonhos esvanecerem-se, perdendo o primitivo encanto e colorido. E isto se deve ao fato dos entraves administrativos terem sido muitos, aliados à morosidade, uma característica marcante nos serviços ligados à imigração. Não havia uma conscientização da sua importância e, como conseqüência, o Governo não se preparara convenientemente para um empreendimento de tal envergadura.

Os imigrantes, ao receberem os seus lotes tiveram a orientação de construírem imediatamente as suas casas, afim de que deixassem os alojamentos provisórios e pudessem iniciar os trabalhos de lavoura em suas terras. Mas vejamos o que ocorreu lembrando, entretanto, que desde julho o Dr. Armênio chamava a atenção e pedia a autorização para que fossem construídas urgentemente as 30 primeiras casas.

Como vimos o seu pedido não foi atendido. Ele então direcionou os colonos, à partir de fins de dezembro, para a construção de suas casas, medida corretíssima e humanitária, uma vez que eles se encontravam em casas provisórias, em condições precárias de higiene e conforto. Acertou-se então com o Governo, através da Inspetoria Geral, a remessa de todo o madeirame, ao passo que os colonos seriam responsáveis pelos trabalhos de execução dos alicerces das casas e da fabricação dos adobes.

E em fins de janeiro de 1889 as fundações das primeiras 50 casas já estavam prontas! A madeira para cobri-las, entretanto, não havia chegado.

Apesar disto os trabalhos de fabricação dos adobes e a abertura das estradas do núcleo continuaram a ser executados no mesmo ritmo.

Quanto à alimentação, as dietas básicas eram distribuídas, por comodidade, para cada 8 dias, sendo entregues aos delegados de um certo número de famílias, que se deslocavam até o depósito da Comissão e ali assistiam à pesagem dos gêneros alimentícios. Depois, usando carros de bois, transportavam os gêneros até as casas provisórias, onde eram distribuídos às famílias.

É interessante observar como o tipo de alimentação preferido pelos colonos interferiu na dieta básica fornecida. Na Itália, daquela época, haviam muitas comidas à base de milho e a polenta, atribuída à tradição italiana, era muito diferente da que conhecemos hoje. O que os imigrantes conheciam era a “mosa”, que consistia na mistura de água, leite, farinha de milho e sal, alimentação básica na mesa dos ricos e pobres. Era um tipo de polenta mole, também chamada “Le pape”.

À mosa acrescentava-se queijo ralado e servia-se sem outras misturas. E foi por esse motivo que os colonos pediram que se triplicasse a quantidade de farinha de milho (ou de fubá) fornecida, já que o preço unitário permaneceria praticamente o mesmo. O macarrão, tão ligado para nós brasileiros, à imagem do italiano, era para eles, naquela época, um alimento de luxo.

Na Colônia os dias iam passando, na rotina da construção das casas e caminhos e nas lidas domésticas comunitárias, sem entretanto possibilitar a cada colono que tivesse realmente o seu lar, que continuava destelhado, a ver estrelas...

Chegou então o mês de fevereiro de 1889 e os colonos, já com 74 casas com as fundações prontas e cerca de 80.000 adobes continuavam à espera do madeirame! O Engenheiro Chefe insiste nos pedidos do material, imprescindível para a cobertura das casas e propõe que sejam usadas telhas de barro, por higiene e economia.

Diante da inércia da Inspetoria Geral ele impacienta-se. Afinal o período das chuvas já estava no fim e os colonos se encontravam desestimulados diante de tanta espera e vivendo em condições de habitabilidade precárias e promíscuas.
Desgostoso com a situação e com a falta de atenção dada aos seus pedidos encaminha à Inspetoria Geral a sua demissão.

Terminava o mês de março de 1889...Três meses haviam se passado desde a chegada dos colonos e não é difícil imaginar a angústia e desespero que viveram nessas circunstâncias. Podemos ainda avaliar, daí para frente, a dura luta que os colonos enfrentaram.

Ressalte-se ainda que, no limiar do alvorecer da República, não deveria haver por parte do Governo tanto empenho no cumprimento de obrigações assumidas pelo Império. Mas os imigrantes estavam acostumados ao sofrimento e retemperaram nele as suas forças. Valeram-se da sua garra e do seu espírito indomável e finalmente venceram!

As suas casas simples, de piso de chão batido, foram enfim cobertas. Começaram as plantações e a colheita de maçãs, pêssegos, laranjas, peras, uvas, milho, batata e hortaliças, que eram vendidos pelas italianas, em seus pesados balaios dependurados em “derlas”.

Depois foram usadas as charretes que levavam a produção excedente até os locais de venda em São João del Rei. Nos fornos de cupim, do lado de fora da casa, assavam os seus pães, reacendendo em suas almas a certeza de dias melhores. Eram as raízes da destemida gente italiana fixando-se definitivamente no fértil solo são-joanense!

A publicação gratuita “Lo Stato di Minas-Gerais”, editado em Genova no ano de 1896, continuava a incentivar a emigração para o Brasil e em relação ao Núcleo Colonial de São João del Rei cita que “misura un’ area di 2,562 ettari divisa in 174 lotti. La sua populazione è di 700 persone, tutta gente laboriosa, morigerata e prospera” (p. 56).

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